Hoje vamos falar um pouquinho sobre o psiquismo
infantil. Já faz um tempo que não viajamos por esses caminhos, não é
mesmo?


É unânime na psicologia pensar que um filho nasce desde o
momento que ele se estrutura no imaginário dos pais. Antes mesmo da concepção.
Que mulher nunca brincou de mamãe-filhinha, ninou sua boneca ou trocou a
roupinha?
Quando namorados, que casal não pensou quantos filhos queriam
ter e quais nomes eles teriam? O que puxariam do pai e o que não puxariam da
mãe.?
Enfim, são imaginários circulantes que fazem com que a ideia se
materialize na concepção e, posteriormente, no nascimento.
Juntamente com todos esses desejos revelados, existem os
velados, aqueles que nem pai e nem mãe sabem, mas que os acompanham pela vida a
fora. São os inconscientes de duas pessoas diferentes, cujas funções maternas
e paternas estão estreitamente relacionados às experiências vividas com seus
pais e mães.
Sempre que escrevo sobre isso me recordo daquela música da Elis
Regina "Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais".
Porém, isso não é tudo. Aliás, não é nem a ponta do iceberg.
Tantos são os fatores determinantes da dinâmica estabelecida entre pais e
filhos que poderíamos passar dias listando e não chegaríamos no fim.
Portanto, vou procurar focar em apenas alguns.
Falemos, então, da relação dos pais entre si. Certa vez li sobre
"o grau de investimento real e simbólico do pai aos olhos da mãe"
que, juntamente com a qualidade amorosa estabelecida entre os pais do bebê e a
gratificação obtida dessa relação podem levar à compreensão de fenômenos
psicóticos e psicossomáticos no bebê.
Ou seja, não é só a mãe responsável pelos sintomas na
criança, segundo algumas teorias, mas também a relação entre os pais. Winnicott
já falava isso, que o pai é a base que sustenta e apoia a mãe.
Por que estou aqui falando tudo isso?
Por diversas vezes me pergunto muitas coisas sobre o
comportamento dos nossos bebês. E também dos pais. Não existe certo ou errado,
caminho pra felicidade. Mas, observo muitos deles escolhendo caminhos que eu
jamais escolheria e me pergunto sempre por que. Por que eu não
escolheria? Por que eles escolheram? Por que tanto a mãe como o pai optaram por
isso?
Prosseguindo um pouco na teoria psicanalítica, é sabido que
todos os pais e mães não querem que seus filhos sofram onde eles sofreram.
Porém, muitas vezes sem perceber, a criança é conduzida a este
sofrimento.
Como?
Lerude fala que existe um imperativo social dos pais para que
seus filhos sejam felizes. Ao tornar a felicidade do filho o objetivo
dominante, a ponto de ditar a lei familiar, sendo esta o cerne do seu
funcionamento em detrimento de outras conquistas no horizonte da família, ela
poderá produzir um sintoma. Isso pode ocorrer devido à falta de flexibilidade
que esta lei possibilitará aos integrantes da família.
Lembrei-me de uma criança, logo que entrei no Pé Pequeno, cujos
pais não permitiram que o irmão dançasse na festa junina pois a hora da dança
era o horário que eles almoçavam. Ao questionar se eles não poderiam almoçar
antes ou depois, a mãe disse que em hipótese alguma. Eles tinham hora pra tudo e
seguiam rigorosamente aquela rotina imposta por eles mesmos.
Isso pra mim faz todo o sentido. Quanto mais super protetores
forem os pais e quanto menos horizontes eles avistarem sem o objetivo direto de
fazer seu filho feliz, mais chances de aparecer um sintoma físico como uma
forma de válvula de escape no bebê. O "ladrão" (como da caixa d´água)
do psiquismo. A pressão psíquica aumenta e alguma coisa precisa acontecer.
Muitas vezes, essa "coisa" é a doença (respiratória, digestiva,
intestinal, dermatológica - entre tantas outras).
Winnicott já dizia que é preciso falhar. Não podemos vislumbrar
a perfeição.
Obviamente que não podemos generalizar, achando que toda doença
é psicossómática. Temos as viroses, as infecções bacterianas. Tudo no seu
devido lugar, claro.
Só que, se eu tenho uma doença respiratória como asma, por
exemplo, certamente estou mais propensa a pegar gripes, faringites,
amidalites, e todas as "respitatites" que aparecerem. Ou seja, uma
coisa puxa a outra. Desenvolvo uma doença psicossomática que me deixa mais
susceptível a ter outras doenças e pra eu viver doente é um piscar de olhos.
Com essas minhas reflexões, coloco vocês pra pensar. Até que
ponto o mundo está girando em torno do seu bebê, que até os 6 meses de idade é
compreensível e justificável, mas que já passou dessa fase? Quantas vezes vocês,
casais, conseguem um tempo para sonharem com algo diferente, planejarem um
cineminha, um jantar a dois, uma viagem de final de semana?
Assim como há tempo de plantar e de colher, deve haver o tempo
de sonhar, de viver o sonho, de permitir que o sonho sonhe e de que você tenha
novos sonhos.
Priscila Zunno Bocchini
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