
"Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi".
Tem horas que não dá. Como diz um amigo, as redes de proteção tem 3 finalidades: Evitar que as crianças caiam, evitar que os pais se joguem e evitar que os pais joguem seus filhos.
Tenho observado muito os pais ultimamente. Como está difícil ser pai/mãe, profissional, marido/esposa, filho/filha, entre tantos outros papéis que desempenhamos diariamente. É tanta cobrança: chefe daqui, pais dali, filhos de lá, amigos (geralmente sem filhos, pois os outros têm o mesmo pique que nós) de cá, Facebook acolá, mídia pra lá.
Como conseguir desempenhar todos os papéis com paciência, resiliência, determinação e Casas Bahia?
Dedicação total à você sim, pois é preciso tomar banho todo dia, se arrumar, fazer as unhas, comer, dormir, ler, ver uma tv ou sonhar com as férias como as que a amiga está postando no Facebook.
Sabem o grito de Munch? Sim, ele mesmo. É assim que me vejo vários dias do mês. Coitado do meu travesseiro nas horas vagas. Não é a toa que meu amigo já se imaginou como seria sem a tela de proteção, eu o entendo perfeitamente.
Isso quando tudo vai bem. E quando vai mal? Quando o filho resolve pintar com tinta sem a sua permissão, ou o cachorro tem diarréia, ou a empregada falta sem avisar, bem no dia que você deixou as janelas todas abertas para ventilar até que ela chegasse e a chuva (como a de hoje) resolveu dar o ar da graça, ou ainda que o marido (ah só nós mulheres sabemos o que é um marido doente) tem uma febre.
Cansada de ler discursos poéticos sobre a maturidade e a maternidade. Lembro quando fui para Porto Seguro na formatura de terceiro colegial, onde comprei uma camiseta: O paraíso é aqui. E de fato, era lá, aos 17 anos de idade, sem eira nem beira, nem pensar em maturidade ou maternidade.
Não é brinquedo não! Mas, eu ainda sou daquelas que acreditam que pra toda tempestade tem uma bonança, pra toda dificuldade há um aprendizado e que ser mãe, ah ser mãe, é padecer no paraíso. E no final, o importante é que emoções eu vivi!
O fato é que ser mãe é maravilhoso sim, mas tem muitos percalços. Eu sonho com a capa da Sheila da Caverna do Dragão até os dias de hoje, sabiam? Seria tão bom colocar o capuz e plim! Voltar só quando a casa já estivesse dormindo.
Só que o outro lado da moeda também é fato: queria tanto ter um controle remoto do filme Click, pra poder passar e repassar os momentos de felicidade em família, de beijos e abraços, do nascimento dos meus meninos, das festas de aniversário, dos "bom dia" cobertos de beijos, das viagens de férias, de tantas e tantas emoções boas que vivi.
Incrível como quando começo a vos escrever sou dominada por uma fera interior que começa a amansar com o último parágrafo. Como sou mole, derretida, tola. Tudo vai por água abaixo. E lá vai a mamãe dar banho no menino pintado dos pés à cabeça e passar um pano na parede que o pintor fez questão de afirmar que era tinta lavável e ela se iludiu achando que era impermeável, limpar a sujeira pela casa do seu companheiro de todas as horas (o cachorro, claro), pegar o rodo e puxar a água da chuva espalhada pela casa, fazer um chazinho pro marido e dormir exausta mas feliz, pois deu conta do recado (isso sem contar o projeto entregue dentro do prazo no trabalho, o livro da pós lido em tempo, a janta feita, a agenda dos filhos lida com a muçarela comprada para a culinária do dia seguinte).
Então a mamãe, a mesma que almejava sair da capa só quando a casa estivesse dormindo, vê a casa dormir e suspira satisfeita e orgulhosa de si. Essa é a minha vida!
Qualquer semelhança é mera coincidência, não se assustem.
Afinal, o que importa é ser feliz, mesmo agradecendo todas as noites às redes de proteção por proteger-te, mesmo sonhando com a capa de invisibilidade, mesmo se assemelhando ao Grito boa parte do tempo, o que realmente importa é ser feliz.
E como não esquecer tudo de louco que vivemos ao observarmos nossos filhos dormindo um sono bom, como anjos em suas camas (que muitas das vezes não duram 2 horas lá, mas que nessa hora você também nem pensa nisso) e não agradecer pela linda família que você construiu?
Bom final de semana,
Priscila Zunno Bocchini